21 dezembro 2013

Como encarar as festas de fim de ano?

Mais um ano que passou voando, mais uma temporada de triathlon finalizada. Dezembro é tipicamente um mês agitado, pois é quando tentamos encerrar as pendências e planejar os próximos objetivos. E, no meio da correria do trabalho, das confraternizações de fim de ano e das reuniões de planejamento, sobra pouco tempo – e, em muitos casos, disposição – para treinar.

Treinar menos nesta época pode ser muito positivo para o atleta, que começa a temporada seguinte descansado física e mentalmente, com saudade dos treinos longos e duros. No entanto, a combinação “pouco treino + excessos alimentares” potencializa o prejuízo à forma física que as festas de fim de ano costumam provocar. Então, o que fazer?

O principal ponto a ser considerado é: em que altura da temporada você está? Alguns atletas param mais cedo, em novembro, para voltar a competir em janeiro em provas fora do país; outros só competirão no final de fevereiro ou março. Avaliar o tempo que você tem para recuperar um eventual ganho de peso é fundamental na hora de decidir o que você vai beliscar nas festas de fim de ano.

Outra questão importante é a facilidade que o atleta tem de controlar seu peso. Algumas pessoas perdem peso facilmente e em alguns dias fazem desaparecer qualquer “extra” adquirido em duas semanas de desvios na conduta alimentar. Outras passam o ano inteiro fazendo dietas restritivas para tentar chegar ao peso ou à composição corporal ideal, e sair da linha agora pode representar um retrocesso de meses.

Por fim, considere o que você está fazendo para gastar o que está consumindo. Se você estiver treinando, seja triathlon ou qualquer outro tipo de cross training, poderá aproveitar as delícias de fim de ano sem muito peso na consciência.

Particularmente, eu acredito que o Natal, o Ano Novo e as eventuais viagens de férias são uma grande oportunidade que nós, triatletas, temos de mostrar que somos pessoas absolutamente normais e sociáveis. Se passamos o ano todo evitando festas, controlando o que comemos e bebemos e acordando cedo nos feriados para treinar, sair um pouco da linha agora vai agradar os familiares e amigos não-atletas. E, com a letargia geral que se percebe nesses dias, sair para pedalar ou correr um pouco mais tarde costuma gerar uma avaliação mais positiva do que estar de volta às 10h da manhã.

Uma boa estratégia é restringir o número de dias por semana em que você consome alimentos ricos em gorduras e açúcares, coisa que muitas mulheres (e atletas) fazem o ano todo. Treinar também ajuda, mesmo que seja uma transição entre pegar jacarés e jogar frescobol. Comer de tudo um pouco, sem exagerar nas quantidades, e diminuir ou, se possível, cortar a suplementação para aliviar a sobrecarga nos rins e fígado, são as outras chaves para um fim de ano divertido e um começo de temporada sem arrependimentos.

Aqueles que competirão em Pucón, na África do Sul ou nas Copas Panamericanas de janeiro podem e devem aproveitar as festas, mas têm que, no mínimo, evitar excessos. Até porque treinar nesta época, além de solitário, é muito mais difícil se seu organismo estiver trabalhando para processar um monte de gorduras e álcool – aos quais ele não deve estar acostumado, certo?

Então festeje, coma e beba sem culpa; afinal, “o que engorda não é o que comemos entre o Natal e o Ano Novo, mas sim o que comemos entre o Ano Novo e o Natal.”

30 março 2011

De volta pra casa

Mudaram as estações, nada mudou
Mas eu sei que alguma coisa aconteceu
Tá tudo assim tão diferente...

Brasileiro de Longa Distância no Ceará, quarto ano consecutivo. Faltei à última edição, mas parecia que tinha competido lá há poucos dias. Desde que cheguei ao aeroporto, na quinta-feira, as lembranças de uma das minhas provas preferidas vinham à tona a todo o momento. Lembrava do desembarque, da locadora de veículos, do entroncamento da estrada que errei, do hotel...

Cheguei a Cumbuco no fim do dia, sem muito tempo para fazer qualquer coisa além de comer e montar a bicicleta antes de dormir. Ao me deitar, as lembranças das vitórias de 2008 e 2009 se misturavam à expectativa pela prova de sábado. Meu lado racional tentava guardar a empolgação em algum cantinho bem escondido para que ela não atrapalhasse os planos objetivamente traçados, e passei um bom tempo me revirando na cama antes de ceder ao sono.

Acordei tranquila, antes do despertador. “Estranho”, pensei, “achei que ficaria mais nervosa com meu primeiro longo...”

Tomei café apressada pela Vanessa Gianinni, que queria sair antes que esquentasse muito, e saímos de carro para fazer o reconhecimento do percurso. Depois, um girinho de pouco menos de uma hora. Voltei para o carro, guardei a bicicleta... E tranquei a chave dentro.

Esfreguei a testa, pensei um pouco. Tentei abrir as portas e janelas; nada. Meu celular também ficou trancado dentro do carro, junto com a chave do hotel, carteira, bicicleta... Fazer o quê? Consegui carona com a Vanuza Maciel e alguns amigos de Florianópolis, voltei para o hotel e liguei para um chaveiro, que só poderia vir depois do almoço. “Ok, vou sair pra almoçar antes de resolver isso.”

Espere aí: eu ainda não estava nervosa, nem estressada, nem preocupada com o horário..? “Que bom que não foi no dia da prova”, foi o máximo de preocupação que passou pela minha cabeça...


(...) Se lembra quando a gente
Chegou um dia a acreditar que tudo era pra sempre
Sem saber que o pra sempre, sempre acaba (...)

Dia da prova.

Acordo às 4h00 sem sono, sem nenhum músculo travado, sem sinusite atacada. O café da manhã desce fácil, nem sequer sinto que comi demais. Apresso a Talita para irmos logo para a transição e chegamos bem a tempo de estacionar na última vaga perto da largada. Transição arrumada, aquecimento feito, largada separada dos homens... “Que dia lindo!”

Largo mal (novidade...), mas logo depois da primeira bóia passo Susana e Jéssica e colo na esteira da Vanessa. “Nossa, acho que tô mesmo num dia bom... A esteira da Van nunca foi tão tranquila”.

Cogito a possibilidade de revezar, puxar um pouco pra abrir mais das meninas, mas o lado pensante vai logo dando bronca: “nem tente fazer gracinha, Ana Lidia!” – o lado racional tem a voz parecida com a da minha mãe – “você vai precisar de qualquer reserva extra daqui a pouco!”. Tá certo, tudo bem...

Saímos da água eu, Vanessa e Jéssica juntas. Transição equilibrada, mas logo no começo do pedal eu aproveito o dia inspirado pra calçar logo as sapatilhas, baixar no clipe e despachar a amazonense. A Van chega comigo no trecho da rodovia e juntas ficamos até o final da terceira volta – nós, um fiscal de vácuo e, depois de algum tempo, a Susana. O vento aumenta a cada volta, o ritmo começa a cair. E vem bronca de novo: “Ô, cabeça... As duas vão deixar pra corrida; e você?”

Pernas pra que te quero! Lá se vai o extra da natação, mais o extra do descanso forçado pela gripe no começo da semana, mais tudo o que tinha. Vinte quilômetros rangendo os dentes, mas consigo abrir um minuto das meninas. Entro na transição feliz da vida, liderando uma prova depois de muito tempo. Calço meu Speedstar rosa em segundos... “Até quando será que eu consigo segurar a ponta..?”


 
(...) Mesmo com tantos motivos pra deixar tudo como está
Nem desistir, nem tentar, agora tanto faz
Estamos indo de volta pra casa

A versão acústica da música da Cássia Eller não parava de tocar na minha cabeça desde o ciclismo, mas agora parecia mais verdadeira do que nunca.

Eu continuava focada, com as passadas cadenciadas, administrando a vantagem. Eu tinha que completar meu primeiro longo – e, agora que estava tão perto, tinha que garantir meu lugar no pódio.

Com 2km de corrida a Vanessa e a Susana me passaram, correndo juntas. “Tenho mais duas posições”.

Corre, isotônico, corre, Accel Gel, água, corre... “Corre!”

Na terceira de quatro voltas, a Silvinha passou voando; perto dela, Jéssica e, um pouco atrás, Bruna Mahn. “Descer em primeiro e acabar em sexto é sacanagem...”

Faltando menos de 3km para o final a Jéssica me passou, mas eu ainda tinha uma boa vantagem para a Bruna, apesar de ela estar visivelmente correndo melhor. Já estava passando bastante mal do estômago e não conseguia segurar a maior parte dos líquidos que ingeria, começando a sentir os efeitos da desidratação. Mas o quinto lugar era meu...


“Quarto?!? Como assim, quarto..?”

A Jéssica estava uma volta atrás, acabou o dia em sétimo. Vanessa Gianinni, Susana Festner, Silvia Fusco, eu e Bruna Mahn, nessa ordem, formamos o pódio feminino do Campeonato Brasileiro de Longa Distância 2011.

Quer saber? Tanto faz.
Estamos indo de volta pra casa...



Parabéns a todos os atletas que competiram nesse maravilhoso, porém duríssimo, evento – em especial, às minhas amigas e companheiras de RM Elite Team Vanessa Gianinni, Sílvia Fusco e Talita Saab. Parabéns à FETRIECE pela excelente organização e à prefeitura de Caucaia/CE pelo respeito para com os atletas, demonstrado pelo apoio à competição e pelo tapamento de todos os buracos do percurso na véspera da prova.

Obrigada a todos os meus patrocinadores e apoiadores (ASICS, Aqua Sphere, Accelerade, Cia Athlética, Clínica 449 e VéloTech), à minha técnica Rosana Merino, aos meus pais – que foram pra Fortaleza de madrugada para assistir à prova, mesmo depois de uma semana de trabalho em ritmo insano –, e aos queridos triatletas e amigos do triathlon de Fortaleza, que me deram uma força enorme não só durante a prova, mas durante todo esse tempo que me ausentei das provas cearenses. Vejo todos vocês em breve, no Ironman Brasil 2011!

20 março 2011

Matéria: Jornal O Popular

Depois de algum tempo longe das postagens do blog, estou passando por aqui para mostrar pra vocês uma cópia da matéria (basta clicar na imagem para abrir o arquivo) que saiu hoje no jornal goiano O Popular.

Gostaria de parabenizar a jornalista Paula Parreira pelo texto muito bem escrito, apesar de duas pequenas incorreções: o GP Internacional - Summer Edition foi, na verdade, um sprint triathlon, não um triathlon olímpico; e, como a quase totalidade dos leitores deste blog sabe, o Ironman é realizado na distâncias de 3.8km de natação, 180km de ciclismo e 42.2km de corrida.
Espero que gostem!