A gente nunca esquece!
A minha foi no dia 1º de setembro de 2004. Eu tinha parado de nadar no final de 2003 e, desde então, só fazia musculação, spinning e caía na água quatro ou cinco vezes por mês pra manter a forma. Isso quando encontrava tempo entre as aulas do 4º ano de Engenharia Civil, o estágio/trabalho em período mais do que integral à frente da obra de uma concessionária de carros, em Goiânia, e os milhões de projetos elaborados em todas as matérias de um quase final de curso de Engenharia.
Um professor da academia onde eu treinava, Guilherme Prudente (então técnico do Santiago Ascenço, que eu conhecia porque ele nadava com a minha equipe de natação, quando eu ainda treinava), estava há meses me perturbando pra eu ir correr com a assessoria dele. Ou pra comprar uma bicicleta e começar a pedalar. Ou fazer as duas coisas, e virar triatleta.
E eu sempre enrolando, por um motivo muito simples: NADADOR NÃO SABE CORRER. Não era por causa do trabalho, nem porque eu sabia que pra treinar teria que acordar de madrugada, nem por nenhuma outra desculpa que eu poderia dar plausivelmente. Eu não sabia correr. E não tinha o menor interesse em aprender. Ponto.
Desde os meus 13 anos, quando eu passei para a categoria infantil da natação federada, todo começo de ano era a mesma coisa: o Omar (nosso técnico cubano) colocava todo mundo pra correr em volta da quadra (ou do quarteirão da academia) pra perdermos os quilos extras acumulados nas festas de fim de ano. E metade da turma fazia sempre a mesma coisa: corria na frente do Omar, andava no fundo da quadra. Eu inclusa.
Juro que não era por mal. Eu nunca gostei de matar treino. Aliás, treinava mais do que todos os outros atletas da equipe, da minha idade. Dobrava duas ou três vezes por semana, sozinha, na hora do almoço. Mas eu não agüentava correr tanto! Como assim, CINCO VOLTAS na quadra??? Isso deve dar uns 2km!!!
Quem diria... O trauma durou até os 20 anos. E eu não fazia triathlon porque não sabia correr, e achava que não iria aprender nunca. Mas um belo dia eu tive um piripaque na obra, e o diagnóstico foi... stress! Como assim? Antes dos 20 anos?? Já???
Decidi (sim, decidi, porque ninguém me falou isso) que o meu problema era falto de esporte competitivo. Só academia, pra mim, não adiantava. E resolvi aproveitar o recém-criado grupo de corrida da MB Engenharia e a proximidade de uma prova (a Mini-Maratona de Goiânia, realizada sempre no dia 24 de outubro) pra começar a correr.
Dia 1º de setembro eu acordei às 5h45, calcei meu tênis e fui (de carro) pro Parque Vaca Brava (cujo ponto de encontro ficava a quase 700m da minha casa) encontrar o restante da equipe, que já treinava ali três vezes por semana há mais de mês. Corri cinco voltas: 5.5km de sobe e desce ininterrupto, fingindo que eu não estava quase me matando para acompanhar a Karol (então secretária da empresa). Fechei o treino em 41’07” (incríveis 7’28”/km).
No outro dia eu quase não andava, mas dois dias depois eu fiz a mesma coisa. E depois mais sete vezes, até que a minha 10ª corrida foi a Mini Maratona de Goiânia, enooooormes 10.6km em 1:03’ (isso mesmo, 6’00”/km; um grande avanço pra nove treinos, ta?). Uma semana depois da prova eu comprei minha primeira bicicleta speed, a Specialized S-Works que hoje a Flavinha Fernandes guia devidamente. Dia 21 de novembro eu fiz a minha primeira prova de triathlon, e sobrevivi (era aniversário da minha mãe; eu tinha que sobreviver). Uma coisa levou à outra, que levou à outra, e os mais recentes capítulos desta história todo mundo (pelo menos todo mundo que lê este blog) sabe.
Então, ontem, dia 03 de agosto de 2010, eu fiz a minha primeira corrida. De novo. Na esteira, 4x 2’30”, intercalados com 2’30” de caminhada. Passo: 7’00”/km. E não senti nada de dor. Nadinha, nenhum incomodozinho. E a passada curtinha continua ali, quase 100ppm, mesmo no trote. E a postura continua a mesma, a mesma pisada com a ponta dos pés – o direito supinado, o esquerdo neutro, mas com valgo no joelho. Tudo igualzinho.
Tudo menos a vontade, que cresce a cada dia.
O ritmo, logo eu pego.
O volume, tenho certeza de que a Coach Rosana Merino vai me passar daqui a algumas semanas.
O prazer de correr...
Esse, eu descobri em 2004, redescobri ontem, e não quero deixar de lado nunca mais.