04 novembro 2010

GPi de Triathlon

Um mês e meio atrás eu escrevi aqui no blog sobre o meu retorno às provas de triathlon em dois revezamentos, no Troféu Brasil e no Thunder Race. E comentei que, na época, eu já me sentia pronta pra fazer mais do que a natação de um triathlon, mas que me faltavam liberação médica e consentimento da família.


Então em outubro eu voltei ao consultório do meu ortopedista, Dr. Dan Oizerovici. Nada de grandes novidades nos exames, mas ele me liberou para correr mais do que os 10-12 minutos que eu vinha fazendo em esteira. Ainda me pediu para evitar o asfalto e para observar todas as reações do meu corpo – e, pra variar, ir com calma. E eu já fiquei um pouco mais feliz com a possibilidade de correr um pouquinho mais e, principalmente, de começar a aparecer nos treinos coletivos na pista de tartan do CT de Campinas.


Achei que era hora de programar um teste de transição e vi no GPi de Triathlon a melhor oportunidade possível, por vários motivos:
- a prova é um sprint triathlon, mesmo para a Elite;
- a largada da Elite é individual, no formato de contra-relógio, e não há grupos na natação;
- o vácuo é proibido no ciclismo, minimizando os riscos;
- o ciclismo tem como principal característica a subida da Estrada da Rainha – definitivamente, um bom teste pra qualquer coisa;
- a corrida é 100% plana;
- a organização é dos meus amigos da SB5 Eventos e da TRIAL (associação da Federação de Triatlo de Santa Catarina à qual estou vinculada), o que é garantia de uma excelente prova.


Fui para Florianópolis na semana anterior ao GPi, quando acompanhei meus amigos do RM Elite Team no Campeonato Brasileiro de Triathlon e cobri a prova para o @mundotrilive. Passei uma semana excelente por lá e, nos treinos, tive companhia da Flávia Fernandes (ECP), Thaty Porto (RM), Vanuza Maciel e Lis Andrade (MEGA). Na quinta, fui com a Flavinha e a Thaty para Balneário Camboriú, onde fizemos o reconhecimento de percurso com a Ale Rocio (TRIAL) e o Fred Monteiro, e conhecemos a famosa “Rainha”.


A subida é mesmo dura: de um lado, tem pouco menos de 250m de extensão; do outro, pouco mais de 300m. Mas sua inclinação chega aos 19%, e mesmo usando uma relação 39/25 na bike de estrada chegamos ao topo da subida “apitando”. Pra piorar, fazemos sempre uma perna lenta antes de começar a subir, impedindo que cheguemos embalados. E tudo isso duas vezes! Percurso show, como em nenhuma outra prova curta no país.


Pra dizer a verdade, o que me deixou mais preocupada no reconhecimento de percurso foi a natação. O mar estava virado e a temperatura estava bem acima dos 20º, o que impediria o uso de roupa de borracha para a Elite. O jeito era torcer para que o tempo mudasse...


Na véspera da competição voltei para Balneário a tempo de participar do Pro Experience, workshop com os atletas profissionais Fred Monteiro e Fábio Carvalho. De manhã, eles deram algumas dicas sobre a natação na praia onde seria realizada a prova, e fizemos um treininho coletivo. À tarde, continuação do curso para atletas amadores e estudantes de Educação Física, com dicas sobre triathlon e sobre o percurso da prova. Depois, feirinha de produtos de triathlon muito bem montada, congresso técnico e um jantar de massas maravilhoso, tudo no hotel oficial do evento. Depois do jantar ainda teve joguinho de Uno no quarto do hotel, contando com metade das atletas da prova feminina (eu, Flávia, Carol e Thaty), Lis e a ilustre presença de uma fã que foi pra BC especialmente para assistir à minha prova – minha mãe! :)


Aliás, um detalhe muito interessante desta prova foi o perfil dos telefonemas e da torcida. Normalmente, alguns ligam ou mandam mensagens pra desejar: “boa prova, força, vai com tudo”. A Coach, se não está presente, liga pra checar se está tudo bem, definir estratégia, desejar um bom trabalho. E na torcida, todo mundo fica passando parciais, gritando pra ir mais rápido, fazer mais força, pra ter garra. Certo..?


Não desta vez. No sábado, os telefonemas pediam juízo, cuidado, paciência, tudo... Menos “partir pra cima”! No domingo, a torcida gritava “bem vinda de volta, está super bem, bom te ver competindo de novo...” Diferente. BEM DIFERENTE!


Com tantas recomendações, nem fiquei nervosa com a largada. Estava ocupada demais pensando: “larga forte, pula onda, nada forte, pega jacaré, transição rápida, pedala rasgando, cuidado nas descidas, transição rápida... SEGURA na corrida”. Não era a sequência de coisas que tomava minha atenção; era a parte de correr segurando o ritmo. “Que ritmo?!? Correr pra 4’20” é segurar pra um sprint? Não, se eu fizer menos de 4’30” minha mãe me mata! Combinei 4’40” com a Rô. Mas e se...???” Como diriam na minha terra: afffe!!! Não sei se isso é concentração ou desconcentração, mas sei que não deu nem tempo de ficar ansiosa pela largada.




A Elite Masculina largou a partir das 10h, com intervalo de 30 segundos entre os atletas. Dez minutos depois do último homem começou a prova da Elite Feminina, sendo a Mariana Andrade a primeira a largar. Depois vieram Sandra Soldan, Flávia Fernandes, Mariana Martins, Thaty Porto... e eu. Depois de mim ainda vieram a Ale Carvalho e a Carol Furriela, mas eu já tinha entrado na fase do “...pula onda, nada forte...” e não sabia de mais nada que estava acontecendo.


Nadei até bem, considerando que eu nem enxergava as bóias de tão alto que estava o mar. Mesmo assim, nos últimos 100m, quando eu já nadava olhando pra trás e esperando uma onda pra pegar aquele jacaré, vi um par de braços rodando igual a um ventilador: a Carol nadou MUITO, e conseguiu me alcançar ali no finalzinho.


Metade da prova saiu pra pedalar em um intervalo de menos de 40 segundos: Thaty, Carol, Mariana Martins e eu. Mesmo mantendo a distância e alternando posições algumas vezes, a referência acabou ajudando a nivelar o ritmo, e as três RMs pedalaram praticamente no mesmo tempo. Com o abandono da Marianinha, a equipe ainda saiu embolada pra corrida.




E aí começou a parte mais difícil: controlar o ritmo. Com a referência da Carol Furriela correndo na frente, só olhando pra baixo pra segurar! Foi o que fiz. Olhei pra baixo, pro lado, pra torcida. Conversei com o Fabinho e com o Alessandro, que estavam entregando água; com as famílias Amorelli e Sant’Ana, que estavam na torcida; com o Henrique Siqueira e o Diogo Sclebin, que já tinham terminado a prova. Só não achei minha mãe pra tirar uma foto minha!


E o ritmo foi encaixando: aquela corrida confortável, agradável, que aparece na propaganda da ASICS (“correr purifica o corpo e a mente – e os pés nem sentem”). Parei de pensar em relógio, em ritmo, em impacto... E consegui, finalmente, curtir a prova.


Passei o restante da corrida curtindo os meus amigos do triathlon, a torcida, a vista do mar... O simples fato de estar ali, correndo. Parei alguns metros antes do pórtico, pra agradecer todo mundo e saborear a chegada. Vibrei com a prova e, mais ainda, com um pódio totalmente inesperado! Este 5º lugar valeu muito mais que isso...




Obrigada mais uma vez a todos os que participaram dos 11 meses de luta até aqui: a toda a Equipe RM e Coach Rosana Merino, aos meus patrocinadores e apoiadores (ASICS, Aqua Sphere, Accelerade, Clínica 449, Cia Athlética e Vélotech), médicos (Drs Dan Oizerovici, Gustavo Janot e Eduardo Meyer), enfermeiros, fisioterapeutas e, especialmente, à minha família. Ainda falta bastante pra chegar onde queremos, mas, com este time e toda a torcida, não tem como não dar certo.






PS: Pra quem ficou imaginando o ritmo da minha corrida: 4'40", cravado, conforme combinado! (rs)

9 comentários:

Simon Leonel disse...

Parabens pela volta Ana , muitos não sabem a fundo a dificuldade que passou, e a batalha que teve esses ultimos meses. Foi muito bom seu resultado na prova, é uma prova dificil, e você superou todas as expectativas.
Sucesso pra você , muita saúde , e força que aguardamos os otimos resultados de Ana Lidia pelo Mundo . Muitos teriam desistido , mas só os guerreiros sabem o verdadeiro valor da vítoria.

Anônimo disse...

"Vc.Merece É Uma Grande Guerreira!Parabéns....

simplifique disse...

Animal. Por tudo o q vc passou, ver esse dia chegar eh inacreditavel. Deve ter feito muita gente vibrar.@_xampa

Unknown disse...

Ana... me emocionei!
Superação. Amor pelo que faz. Essa garra toda! É sensacional poder dizer que me inspiro com tamanha dedicação! Parabéns..Sucesso...e GARRA!
Ter uma companheira das piscinas do swim como inspiração não tem preço!
VAMO TREINA!!!
@thiagomaltab

Marcão disse...

Parabéns Ana! Belo retorno. E é só o começo agora, ou melhor, o recomeço. Com certeza o resultado foi o menos significante. O importante foi q vc fez uma excelente prova e agora é treinar e treinar pra se sentir cada vez melhor e mais forte daqui pra frente. Parabéns novamente!

Anônimo disse...

Não nos conhecemos pessoalmente, nunca disputamos a mesma prova (até pq sou novato no esporte) e provavelmente nunca vamos nos conhecer. Mas confesso que estou esperando ler esse texto seu desde que fiquei sabendo do acidente. Meus mais sinceros parabéns. Todo o esforço da recuperação tá sendo recompensado. Continua firme, bons treinos e, mais uma vez, parabéns pela garra e pelo amor ao esporte!

Adriano Nascimento disse...

Parabens Ana, voçê emociona a todos com esse exemplo de superação e amor ao Triathlon! Continue firme, e bem vinda aos podiuns!

Adriano Nascimento

Bruno disse...

Gostei de saber que antes de tudo você curtiu a prova...Isso é o mais importante por enquanto!!! Sucesso.

Fabi disse...

Ana,
Parabéns por essa mega vitória. Sei que essa foi sua maior e melhor vitória!!
Vc merece, é uma grande guerreira!
Parabénsss garota!
Fabi - Top Sports - Brasília